Em «Eu Não» analisa-se, em estado de vigília, um
estranho “filme mental” de fragmentos de vida, no tempo e na lógica de um jorro
de palavras incontinente que se impõe como se as palavras estivessem contidas
sob uma pressão – timidez, associabilidade, exclusão, confusão e a
gramaticalidade – que entretanto cedesse. E o jorro é tentativa de compreender,
história bastarda de vida atirada pela Boca aos bocados: o nascer e a visitação
da morte, aos setenta, no meio do nada, uma ida ao super-mercado e a experiência
de ter sido ré num tribunal que se confunde com uma imaginação concreta da cena
do juízo final. Em «Acto sem palavras» um corpo humano é tiranizado numa caixa
de cena prisional que funciona como máquina de tortura. «Cadeira de embalar»,
cuja forma cadenciada remete para a canção de embalar, embala a personagem para
a outra vida: é um apagamento que acontece, como um pavio que se extingue.
Texto: Samuel Beckett Tradução e dramaturgia: Isabel Lopes Encenação: Fernando
Mora Ramos Interpretação: Isabel Lopes, Fábio Costa (“Deus Ex Machina”
Alexandre Calçada) Desenho de som: Carlos Alberto Augusto Desenho de luz:
Carina Galante Produção: Teatro da Rainha Duração: 50 min. M/16
In "Eu Não", a strange "mental movie" of fragments of life is analyzed in a waking state.